Crítica | Morte no Nilo


Agatha Christie é conhecida até hoje como uma das maiores escritoras de suspense e investigação, com obras para lá de curiosas e instigantes. Algumas de suas obras foram adaptadas para o cinema, como O Assassinato no Expresso do Oriente, que foi um grande sucesso. Mas Morte no Nilo promete ser ainda maior e mais barulhento do que seu antecessor. Escrito por Michael Green, o longa explora a curiosidade do público, que, junto ao protagonista, se vê em meio a um mistério extremamente complexo. O filme dirigido e estrelado por Kenneth Branagh, que dá vida ao detetive Hercules Poirot, traz não somente um bom roteiro, mas também um elenco de peso – e até mesmo cheio de polêmicas. 

A trama acompanha um assassinato que acontece durante a lua de mel de Linnet e Simon Doyle, em um barco luxuoso, visitando as belezas do Antigo Egito, logo, no Rio Nilo. As férias do detetive belga Hercule Poirot, no Egito, a bordo de um glamoroso navio cruzeiro, transformam-se numa procura terrível por um assassino, quando a lua de mel idílica de um casal perfeito é tragicamente interrompida. Situado num cenário épico de paisagens desertas arrebatadoras e as majestosas pirâmides de Gizé, este conto de desenfreada paixão e ciúme incapacitante apresenta um grupo cosmopolita de viajantes impecavelmente vestidos, e voltas e reviravoltas suficientes para deixar o público expectante até ao chocante desfecho final.

Imagem: Reprodução / 20th Century Studios

Linnet é interpretada por ninguém mais que Gal Gadot, trazendo uma personagem forte e sensível ao mesmo tempo, atriz famosa que está em seu melhor momento de carreira (sendo a aparência dela um dos únicos diferenciais do livro, já que ela é loira na obra origina). O elenco ainda reúne personalidades como Armie Hammer, vivendo Simon Doyle, marido de Linnet, e Letitia Wright como Rosalie Otterbourne, sobrinha da cantora de blues Salome Otterbourne (Sophie Okonedo) e par romântico de Bouc (Tom Bateman). O time de atores é grande, para o público ter mais suspeitos, mas o grande destaque de atuação foi Emma Mackey, no papel de Jacqueline Bellefort, amiga de Linnet e ex-noiva de Simon, que se vê trocada pela amiga após ela mesma tê-los apresentado. A atriz de Sex Education deixou toda sua jovialidade de lado para esse papel, trazendo uma personagem intensa, dramática e com cenas repletas de emoção, com muita naturalidade. Há quem pensasse que o destaque seria Gadot, mas Emma surpreendeu positivamente. 

De forma extremamente leve, Morte no Nilo ainda traz à tona assuntos delicados, tais como homossexualidade, infidelidade, preconceito quanto à cor de pele e também por situação econômica. Os personagens são carregados de bagagem emocional e seus planos de fundo acabam colaborando para a construção do mistério principal da narrativa. O filme também traz uma exposição comparativa da relação entre “servos e senhores”, não de forma central, mas é notável a diferença de realidades, principalmente quando estão todos embarcando no barco, as realizações das tarefas são claras, principalmente no caso da personagem Louise Bourget (Rose Leslie), que sonha com uma vida luxuosa como a da patroa Linnet, se tornando uma suspeita do caso. 

Imagem: Reprodução / 20th Century Studios

O luxo também se dá pelo cenário formidável que é apresentado, por se passar no Egito, temos a presença das pirâmides, diversas esfinges e monumentos seculares do Antigo Egito. A equipe de efeitos especiais merece reconhecimento nesse aspecto, já que o uso do CGI fica visível demais, apenas em alguns cortes (o que, tecnicamente, não é lá muito bom, mas são poucos os cortes que são possíveis reparar). A sonoplastia trabalha a favor do clima misterioso que paira na narrativa, com fundos musicais que auxiliam na expressão e no impacto das atuações e das cenas. A equipe de fotografia é digna de elogios, principalmente pelas montagens das cenas. Os enquadramentos focados em determinados personagens são utilizados de maneira genuína para a expressão de sentimentos deles, sobretudo do personagem Poirot (Kenneth Branagh), que tem seu caráter construído a cada “take”, assim como sua profundidade é explorada com enquadramentos certeiros. 

Além dos contrastes visuais que nos são apresentados, reforçando os elogios da equipe de montagem. Um exemplo disso é uma das cenas iniciais, em que em um salão com pessoas dançando, há somente a presença de cores quentes e o único tom frio se dá no vestido de Linnet, trazendo foco para a personagem, tanto na trama quanto aos olhos do público. Em resumo Morte no Nilo é um filme bem trabalhado, que de início promete pouco, mas acaba entregando um resultado de qualidade, com boa narrativa, boas atuações e atrai todo tipo de público, desde os amantes dos mistérios de Agatha Christie até aqueles que nunca leram uma obra da autora. O grande mistério egípcio chega aos cinemas dia 10 de fevereiro de 2022 e se você se sente seguro para ir, prefira comprar os seus ingressos pelo site do cinema, e lembre-se de manter o distanciamento seguro, manter suas mãos higienizadas e usar uma boa máscara no rosto o tempo todo. Pegue seu bloquinho de notas e toda sua experiência de detetive e tente descobrir o culpado pelo assassinato mais instigante de todo o Nilo.
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