Overcompensating (ou Muito Esforçado em português), criada, roteirizada e estrelada por Benito Skinner, é uma deliciosa surpresa para quem cresceu com as comédias adolescentes dos anos 2000. A série bebe da fonte de títulos como American Pie e Não É Mais um Besteirol Americano, mas o faz com uma lente contemporânea — e queer. Ao acompanhar Benny, um ex-atleta popular que entra na faculdade com o segredo de que é gay, a produção entrega humor físico, exagero intencional e uma sensibilidade inesperada no meio da zoeira.
A força da série está no tom: Skinner não tem medo de rir dos estereótipos, mas também os subverte com inteligência. Benny é uma caricatura do garoto perfeito dos filmes antigos, mas agora com uma sexualidade reprimida que se torna o centro das confusões. A comédia nasce do exagero, da vergonha alheia e do absurdo, mas é ancorada por personagens que, aos poucos, mostram camadas. A série abraça o ridículo com orgulho, mas não abre mão de momentos de verdade — o que a torna surpreendentemente tocante.
Wally Baram brilha como Carmen, uma garota que, assim como Benny, está desesperada para se encaixar, mas ainda não sabe exatamente quem quer ser. A química entre os dois protagonistas sustenta a trama com leveza e carisma, enquanto o triângulo amoroso com Miles (vivido por Rish Shah) traz tensão, desejo e muitas situações hilárias. O roteiro usa esse trio para brincar com dinâmicas clássicas de comédia romântica, mas com um toque inclusivo e atualizado, que conversa diretamente com o público jovem adulto atual.
Visualmente, a série aposta numa estética colorida, quase cartunesca, que combina perfeitamente com o exagero da proposta. Os figurinos são um espetáculo à parte, misturando referências pop, ícones dos anos 2000 e looks absurdamente performáticos — especialmente os de Benny. A trilha sonora também mergulha na nostalgia, com hits da época e sons eletrônicos que reforçam o ritmo ágil da narrativa. Tudo em Overcompensating grita “exagerado” — e esse é justamente o charme.
Mais do que uma homenagem às comédias adolescentes, Overcompensating é uma reimaginação queer desse subgênero. Skinner entende as piadas que marcaram época, mas reescreve as regras com consciência e autenticidade. Há espaço para crises de identidade, dilemas amorosos e conflitos familiares, mas sempre com uma abordagem leve, divertida e muitas vezes escancaradamente absurda. A série não quer ensinar nada — mas, ao mostrar personagens LGBTQIA+ vivendo suas próprias versões de coming-of-age, ela acaba ensinando muito.
No fim, Overcompensating faz jus ao nome: é uma série que tenta muito — e quase sempre acerta. Engraçada, ousada e estilizada, ela se destaca ao revisitar um universo que parecia ultrapassado, mas agora sob uma nova perspectiva. Com um protagonista carismático, ótimas piadas visuais e um coração genuíno batendo sob o glitter, Overcompensating é puro entretenimento com identidade. Um lembrete de que todo mundo tem o direito de viver sua própria comédia adolescente — mesmo que seja num formato totalmente fora da caixinha.