A segunda temporada de The Last of Us aprofunda tudo o que a primeira já havia estabelecido: dor, humanidade e consequências. Com um salto temporal que acompanha a transição emocional e física de Ellie, a série mergulha em temas ainda mais densos. Craig Mazin e Neil Druckmann, novamente à frente da adaptação, entregam uma temporada ousada, fiel ao espírito do jogo, mas com liberdade narrativa que permite novas leituras. O resultado é uma sequência emocionalmente arrasadora e artisticamente impecável.
Bella Ramsey está ainda mais poderosa como Ellie. Agora mais madura, traumatizada e guiada por uma fúria silenciosa, sua atuação é intensa, com nuances que transbordam mesmo no silêncio. A jornada da personagem é de perda, obsessão e identidade, e Ramsey a percorre com firmeza e vulnerabilidade. Já Pedro Pascal, mesmo com menos tempo em tela, continua sendo a âncora emocional da série, garantindo que cada olhar e cada palavra carreguem o peso do passado que assombra os dois.
O maior desafio desta temporada era a introdução de Abby, e a série acerta em cheio ao humanizá-la desde o início. Interpretada com força e empatia por Kaitlyn Dever, Abby representa o outro lado da moeda — alguém que, assim como Ellie, busca justiça por perdas irreparáveis. Ao alternar as perspectivas com cuidado, a série constrói um paralelo brutal e necessário entre as duas. O espectador é forçado a confrontar seus julgamentos, o que torna a experiência mais intensa e dolorosa.
A direção permanece cinematográfica, com episódios que parecem curtas-metragens de guerra emocional. A fotografia alterna entre a melancolia da paisagem desolada e momentos de brutalidade impactante. A trilha sonora de Gustavo Santaolalla segue sendo uma presença discreta, porém vital, evocando sentimentos profundos sem precisar de grandiosidade. Cada frame é tratado com sensibilidade, reforçando que The Last of Us não é só uma série sobre sobrevivência — é sobre o que resta de nós quando tudo parece perdido.
Narrativamente, a temporada é corajosa ao abandonar o conforto de um único ponto de vista. Ao seguir tanto Ellie quanto Abby, a série aposta numa ambiguidade moral rara na televisão mainstream. As escolhas feitas podem dividir o público, assim como aconteceu com o jogo original, mas é justamente essa disposição para incomodar que torna The Last of Us tão singular. Aqui, ninguém sai ileso — nem os personagens, nem quem assiste.
A segunda temporada de The Last of Us não quer ser agradável — ela quer ser honesta. Em um mundo onde perdão e redenção parecem inatingíveis, a série oferece um retrato duro, mas profundamente humano. É uma obra que entende a complexidade das emoções e a impossibilidade de finais felizes num cenário devastado. Em sua jornada entre o amor e a vingança, The Last of Us reafirma seu lugar como uma das maiores produções televisivas desta década.