Karate Kid: Lendas é uma tentativa de renovar a franquia clássica unindo gerações, mas o resultado final entrega menos do que promete. A história de Li Fong, um prodígio do kung fu que tenta recomeçar a vida em Nova York, parte de uma premissa interessante, mas logo esbarra em um roteiro apressado. A dor da perda, o choque cultural e o desejo de se manter longe das lutas são elementos potentes, porém tratados com pressa e superficialidade. Falta tempo para o espectador se envolver com o protagonista antes de mergulhar na inevitável jornada de superação.
Ben Wang entrega uma atuação sólida como Li Fong. Ele é convincente em cena, e o carisma segura boa parte do filme. Ainda assim, o desenvolvimento do personagem parece acelerado, com viradas emocionais que não ganham a força necessária. O conflito interno, que poderia ser o coração da narrativa, perde espaço para cenas de ação que, apesar de bem coreografadas, não compensam a falta de profundidade. A história caminha rápido demais, e as relações importantes acabam ficando no raso.
A participação de Jackie Chan como Sr. Han e de Ralph Macchio como Daniel LaRusso é, sem dúvida, o grande destaque para os fãs. A nostalgia funciona, mas o encontro entre os dois mestres não é tão impactante quanto se espera. Faltam momentos realmente marcantes entre eles, e o roteiro desperdiça a chance de explorar o contraste entre suas filosofias de luta. O potencial de uma união simbólica entre kung fu e karatê é tratado de forma funcional, mas sem deixar uma impressão duradoura.
Os treinos com Li Fong têm bons momentos, e há uma tentativa de trazer leveza à narrativa com o novo grupo de amigos que o cerca. No entanto, o humor é irregular, e os coadjuvantes pouco acrescentam ao arco principal. O vilão da história, um campeão local de karatê, cumpre bem o papel de antagonista, mas sua motivação e personalidade não ganham destaque suficiente. O confronto final tem energia, mas é previsível e não oferece a tensão que um clímax desse tipo deveria ter.
Visualmente, o filme é bonito e bem produzido. As cenas de luta são limpas, bem coreografadas e respeitam a linguagem da franquia. A direção faz um bom trabalho ao explorar os espaços urbanos de Nova York e os ambientes de treino, criando contrastes visuais interessantes. A trilha sonora também ajuda a manter o ritmo, mesmo quando o enredo parece enfraquecer. Porém, todo esse cuidado técnico não consegue esconder a ausência de emoção mais genuína, que era marca registrada dos filmes anteriores.
No fim, Karate Kid: Lendas vale pela curiosidade e pela homenagem que presta a uma das franquias mais queridas do cinema. A ideia de unir passado e presente é válida, mas a execução segura demais impede que o filme se destaque. Funciona como entretenimento leve e nostálgico, mas não marca como um novo clássico. A lenda continua, sim, mas com menos impacto do que poderia. É uma sessão que diverte, emociona em poucos momentos, e deixa no ar a sensação de que havia espaço para mais ousadia.