Thunderbolts* é a guinada mais ousada da Marvel Studios desde Eternos, e talvez a mais emocionante desde Pantera Negra. Ao reunir uma equipe formada por personagens quebrados, com passados pesados e cicatrizes abertas, o estúdio se arrisca ao entregar um filme menos sobre salvar o mundo e mais sobre sobrevivência emocional. A direção de Jake Schreier opta por um tom sombrio, com poucos alívios cômicos e muitos silêncios desconfortáveis. Funciona quase como um anti-MCU, onde a grandiosidade cede espaço para a intimidade. E sinceramente, esse caminho mais contido faz bem ao universo, que há tempos pedia por histórias mais humanas, mesmo que contadas por super-humanos.
Florence Pugh é, de longe, o grande destaque do filme. Yelena Belova já era uma das personagens mais carismáticas da nova fase do MCU, mas aqui ela ganha camadas mais profundas. Dor, frustração e uma certa exaustão emocional são perceptíveis em cada cena. Ao lado dela, Bucky Barnes finalmente tem espaço para respirar e lidar com sua identidade sem depender de outros heróis. Sebastian Stan entrega uma performance contida, mas cheia de peso. A dinâmica entre os dois, marcada por silêncios e cumplicidade, se torna o verdadeiro centro emocional do longa.
O roteiro tem seus altos e baixos. Acerta ao explorar a conexão entre os personagens, mas tropeça ao tentar encaixar uma missão de escala global que parece destoar do restante do tom. A ameaça que move a trama é genérica e pouco inspirada, e o vilão carece de presença. Ainda assim, os conflitos internos dos protagonistas são suficientemente fortes para sustentar o envolvimento. É interessante ver como cada um lida com suas falhas, com a culpa e com o desejo de se reconectar com algo que faça sentido em meio ao caos.
Visualmente, o filme aposta numa estética mais crua e realista. As cenas de ação são mais físicas do que pirotécnicas, com lutas corpo a corpo bem coreografadas e uma câmera que prefere proximidade à espetacularização. Nada de céu se abrindo ou portais interdimensionais. A trilha sonora caminha por territórios mais experimentais e melancólicos, reforçando o tom emocional da narrativa. A fotografia é fria, com contrastes marcantes e uma paleta que acompanha a incerteza dos personagens. Tudo colabora para criar uma atmosfera intensa e contida.
O que mais me chamou atenção em Thunderbolts* foi a escolha de não se apoiar em fórmulas prontas. Não tenta agradar a todo custo, nem corre atrás de efeitos que provoquem aplausos fáceis. O filme exige atenção e entrega uma recompensa emocional para quem estiver disposto a acompanhar os dilemas dos personagens. Pode frustrar quem espera o mesmo ritmo de sempre, mas para mim isso é um acerto. Ao priorizar relações e silêncios, a narrativa ganha densidade e mostra que ainda há espaço para inovação dentro do MCU.
No fim, Thunderbolts* pode dividir o público, mas se destaca por sua tentativa sincera de fazer algo diferente. O foco está na reconstrução, tanto individual quanto coletiva, e isso faz com que o filme soe mais maduro e autoral do que muitos lançamentos recentes do estúdio. Talvez não entre para a lista dos mais populares, mas certamente estará entre os mais corajosos. Ao colocar o holofote nos que vivem à margem do heroísmo clássico, a Marvel Studios dá um passo interessante em direção a novas formas de contar suas histórias.