Crítica | O Som do Silêncio


O Som do Silêncio narra a história de Ruben Stone e comove ao falar do processo da surdez na vida de um jovem baterista. 


A Família Bélier (2014), filme do francês Eric Lartigau, conseguiu de forma explosiva ganhar visibilidade no mundo inteiro. Narrar histórias de superação de deficiências e cuidado podem ser escolhas mais fáceis quando o intuito principal é chegar no público e emocioná-lo. O Som do Silêncio (2020) pode ser um filme sobre uma pessoa surda que quer, acima de tudo, voltar a ter o prazer de ouvir músicas, mas está longe de ser sobre superação. 


Ruben Stone (Riz Ahmed) é um jovem que não teve muitos benefícios na vida. Filho de uma mãe solo e ex-viciado em drogas, Ruben tenta viver sua vida de modo que beira a pura diversão quando pensamos na vida de um baterista com residência fixa em uma van. A história, no entanto, não é sobre como esse jovem passa pela vida, mas como a vida decide passar por ele. E é assim, de repente, que nosso protagonista fica surdo, sem explicações exatas ou concretas para o ocorrido. 


Imagem: Reprodução/Amazon Prime

O Som do Silêncio não é sobre uma trama de pontos altos e baixos, está muito mais para uma sequência de fatos que se constroem quase que de forma desesperada. Ruben não quer ser aceito na comunidade de surdos, porque isso o faria entender que não voltaria a ouvir. Então, o que vemos é uma falta de aceitação com base no desespero do sentimento de perda. Sentimento esse que não era novo para o baterista. 


O filme de Darius Marder, com grande elenco como Olivia Cooke e Paul Raci, abriu Hollywood para o diretor da forma mais completa que poderia ter conseguido. Consagrado com dois Oscars, prêmio mais respeitado da indústria cinematográfica, Marder combinou elementos cruciais para uma trama verdadeira: o medo e a solução. Ambos, entretanto, não entram em comum acordo na trama e faz com que o protagonista dessa história não entenda em mais de uma hora de filme que sua verdadeira solução estava em aceitar o que passou a ser: um homem surdo. 


Imagem: Reprodução/Amazon Prime

A combinação perfeita desse enredo não poderia deixar de ser citada. A música, os sons e os toques nos fazem entender exatamente o que o personagem está passando. A contraposição de sons simples com o silêncio nos coloca quase que na posição do personagem, criando o sentimento claro de saber, mesmo que minimamente, o que é viver aquela dor e desespero. 


Riz Ahmed não faturou o Oscar de melhor ator, mas a presença de nomes como Chadwick Boseman (A Voz Suprema do Blues) e do campeão Anthony Hopkins (Meu pai), fizeram essa disputa ficar quase que impossível, mas não menos merecedora. Ahmed conseguiu entregar tudo que podia no papel de Ruben, conseguimos não só captar a urgência de uma pessoa que vivencia a ruína de perto, como sentimos pena de vê-lo naquela situação de desespero. 


Imagem: Reprodução/Amazon Prime


Quando finalmente Ruben consegue custear e passar pela cirurgia de recuperação da sua audição, entendemos que o propósito do filme nunca foi sobre voltar a ser o que era, porque isso era impossível. O propósito era seguir sendo feliz com o que se tem, então, pela primeira vez, o vemos numa posição de vulnerabilidade quase que total. O processo, no entanto, nos fez perceber que estávamos torcendo para algo diferente do que deveria ser: se antes torcíamos para que tudo voltasse ao “normal”, ao final do filme queríamos que, enquanto pessoa e não somente como músico ou amante, encontrasse sua nova forma de viver. 


O filme está disponível no Amazon Prime e vale a pena assistir. Se superação é o foco do que você procura, recomendo que entre com olhar que enxerga o processo e tenta ver nele uma saída mágica do desespero. Talvez tenha faltado algo quando lidamos com um filme com pouca proposta de manter o espectador até o fim, mas para aqueles que atribuem o benefício da dúvida, o filme conquista com maestria. 



Postagem Anterior Próxima Postagem