Crítica | Nomadland


Nomadland traz vida e genialidade em obra que questiona a liberdade norte americana.

Cerca de 1 milhão de pessoas vivem como nômades em territórios americanos. Ainda que o número possa parecer baixo se comparado com o tamanho de um dos maiores países da América, a quantidade de pessoas que se estabelecem nessas condições é alarmante quando pensamos na esfera em que esses indivíduos habitam. Nomadland não só narra  a história de uma nômade, como evidencia o conflito entre liberdade e capitalismo, ambos pontos cruciais para a história americana. 


Frances Mcdormand dá vida à Fern, viúva e nômade, que vai se caracterizar como ponto principal da nossa história. Fern roda o país inteiro sendo nômade enquanto trabalha em grandes e pequenas empresas para se sustentar. Talvez você olhe esse cenário com admiração por saber que há certo tom de liberdade nessa “escolha”, mas certamente ser livre não é o que define essa situação. 


Imagem: Reprodução/Searchlight Pictures

Não há no mundo quem desconheça do passado e presente escravocrata a qual a grande empresa Amazon entrega aos seus funcionários. A lógica do proletariado fica evidente em sua essência, afinal não é Jeff Bezos que depende de uma aposentadoria do governo, são seus funcionários amplamente explorados. Ainda que a empresa pague mais do que as outras, é evidente que a promoção da subvida entra em pleno destaque na narrativa de Chloe Zhao. Fern trabalha para sobreviver, não para gozar de uma vida livre a qual geralmente o lema norte americano se propõe. 


Nomadland já inicia seu processo com uma história que passa por pontos da vida da própria roteirista e diretora, Chloe Zhao, que ainda jovem foi tirada de Pequim por seu pai e migrou para os EUA. Isso tudo em um processo de quase redescoberta do mundo para uma jovem menina que mal sabia quem era. Nesse emaranhado de vida real com ficção encontramos algo que difere a trama de tantos outros filmes sobre o assunto: a escolha de dar nomes aos bois. No filme, a Amazon é a Amazon, os nômades são nômades e o processo de destruição daquelas pessoas é real. 


Imagem: Reprodução/Searchlight Pictures

No Oscar o filme recebeu 6 (seis) indicações, se consagrando como o mais indicado da noite. Chloe Zhao faturou dois e conseguiu colocar seu nome no prêmio de Melhor Diretor, fazendo história como a primeira mulher não americana a ganhar o prêmio, e não parou por aí, a diretora conseguiu o prêmio, também, de Melhor Filme. Frances Mcdormand saiu vitoriosa na categoria de Melhor Atriz. 


O sucesso de Nomadland em 2021 pode ter sido fruto da ausência de muitas produções na premiação por conta da baixa de filmes na Pandemia, mas havia a necessidade de um filme que pudesse trazer uma discussão que sempre é buscada pelo Oscar. Minari trouxe muitas questões, mas que talvez não fosse nova para as telas e enredo que a premiação estava querendo para o ano. Então, ao que se deve esse sucesso? Possivelmente da junção do cenário que estamos, com a tacada de realidade que nos é mostrada. É quase que uma ironia falar de liberdade para pessoas que não conseguem nem se aposentar depois de anos trabalhando. 


Imagem: Reprodução/Searchlight Pictures

O filme vale a pena pelo seu contexto e pela sua história, mas não vai ser a trama que você vai querer assistir milhares de vezes. Hoje, está disponível nos cinemas, para quem não está com receio de retornar às salas, pode ser uma excelente escolha. Para os que preferem esperar, ainda não sabemos em qual Streaming estará disponível no futuro. 

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