Crítica | Meu Pai


"Meu Pai" abraça situações vivida por muitos e entrega produção cheia de empatia e delicadeza.

Filmes sobre doenças mentais acabam ganhando bastante notoriedade em produções de Hollywood, ainda hoje a temática já ficou responsável por levar milhões de pessoas aos cinemas. Não só isso. Falar sobre doenças mentais acaba carregando o fardo de precisar, com sincronicidade, abordar de forma responsável e artística, ainda que possa parecer tarefa bem difícil. Meu Pai (2021) surge nessa atmosfera: um homem cuja velhice lhe tira tudo, até a capacidade de formular cenários que façam paralelo com a realidade. 


Anthony (Anthony Hopkins) dá vida a um senhor de idade que, não diferente de muitos ao chegarem em sua velhice, acaba sendo arrebatado pela doença ainda pouco explicada pela ciência: o Alzheimer. Anthony se vê em muitos cenários de alucinação, principalmente ao enxergar sua filha já morta em uma cuidadora destinada a ficar com ele. Entretanto, as nuances de um filme tão bem feito quanto Meu pai não se estabelecem nessa dicotomia entre vida e morte, e sim, no enfrentamento de ambas. 


Imagem: Reprodução/divulgação

O sucesso de se fazer um filme tão delicado, ainda que a temática seja tão difícil, se deve possivelmente ao lado artístico de Florian Zeller, diretor de Meu Pai. Zeller retrata de forma pura e cheia de expectativa a vida que não se encontra mais com o real, e nesse espetáculo sem final feliz, encontramos a arte que magicamente retrata o ato de se estar vivo. Então, nesse encontro cheio de expectativa encontramos três peças fundamentais para o sucesso do filme: Hopkins, Olívia Colman (A Favorita) e Zeller. O trio que concorre em algumas categorias chaves do Oscar. 


Anthony chega ao Oscar se consagrando como o indicado mais velho a concorrer pela estatueta. Ainda que merecesse muito, Hopkins perdeu sua estatueta no Globo de Ouro para o renomado e merecedor Chadwick Boseman (A voz suprema do Blues). Colman brilhantemente luta pelo seu segundo Oscar na carreira e manda recado à incerteza de sair vitoriosa da noite. A atriz perdeu para Jodie Foster (The Mauritanian) na luta pelo Globo Ouro na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, mas venceu na categoria que premia melhores atrizes em séries, por The Crown. Zeller, escritor ficcional francês, chega ao Oscar com o sentimento de incerteza quanto à premiação, mas certeza de que fez um trabalho digno à estatueta. 


Imagem: Reprodução/divulgação


Meu pai não é um filme comum sobre a dor de pessoas ao verem o outro como peça de sofrimento. O longa é, antes de tudo, sobre a vida de alguém que não se lembra mais dela com exatidão, mas que tenta todos os dias mostrar para quem ama que não deseja esquecê-los. O filme consegue captar a essência pura e simplista de uma realidade pouco explorada pelo cinema, ver as alucinações e a entrega dos atores nos faz entender a grandiosidade de uma produção que, ainda sem prometer muito, entregou um dos melhores filmes de 2021. Aos que vão assistir a produção de Zeller, entrem com coração atento, todos que já viveram experiências parecidas, irão se identificar para além do costume.




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