Crítica | Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-Rosa

 
"Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-Rosa" narra com sensibilidade a história de uma família em busca de um novo lar para viverem em paz.

Muitos filmes alemães não conseguem passar pelo cinema sem abordar o trágico período em que Adolf Hitler ganhou espaço na sociedade alemã. A promessa da hegemonia ariana não só existia em dicotomia com a existência de judeus, como precisava do extermínio para se provar eficaz. Nesse contexto conhecemos a refugiada família Kemper, composta por quatro judeus que precisam fugir para não serem pegos no governo de Hitler. 


Imagem: reprodução/divulgação

"Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-Rosa" (2020) nomeia nossa trama. A história, antes de tudo, é sobre uma família que se vê obrigada a deixar seu país para não morrer nas mãos do governo nazista. Arthur Kemper (Oliver Masucci), judeu e alemão, escreve para o jornal que norteia a política alemã e se posiciona contrário ao governo nazista de Adolf Hitler. Isso, no entanto, se torna um grande problema quando Hitler consegue maioria no congresso e toma o poder com a promessa de exterminar qualquer oposição ao seu governo autoritário.


Em meio ao caos do mandato de Hitler e a ameaça à Arthur, a família não vê outra saída: precisam deixar a Alemanha. O primeiro paradeiro acaba sendo a Suíça, local que não podem ficar por muito tempo devido a ausência de emprego. Depois de muitos desafios, a família Kemper se vê obrigada a ir para a França, país que também não conseguem se manter por tempo suficiente. Tanto a falta de dinheiro, quanto a ausência de formas para consegui-lo, norteiam a história dessa família que, de uma noite para outra, acabaram perdendo tudo que tinham.


O filme mostra não só a rotina de uma família que se vê obrigada a migrar de país em país para não serem capturados, como evidencia isso pelos olhos de Anna Kemper (Riva Krymalowski), filha de Arthur e Dorothea Kemper (Carla Juri), a visão da menina de dez anos acaba sendo o ponto chave da trama. Entendê-la e compreender sua necessidade por um lar, acaba tornando a vida do espectador mais fácil, uma vez que não há opção que não seja torcer para que eles encontrem esse lar que tanto procuram. 


Imagem: reprodução/divulgação
                                                 

Não podemos falar do filme sem citar a atuação impecável de Oliver Masucci, conhecido por Dark (2017). O ator conseguiu colocar nas telas o desespero e a tristeza de conviver em um mundo com pensamentos tão retrógrados. O mais interessante das multifacetas de Masucci é ter interpretado Hitler em "Olha quem está de volta" (2015). Com maestria, o ator já deu vida aos dois lados do período nazista alemão. 


O livro de Judith Kerr fala de uma menina que vê sua infância roubada pelos nazista, mas que para além disso, consegue se encontrar no caos. A poesia que separa o ruim do bom, acaba dando vida ao fantástico mundo de Anna Kemper, uma jovem que só quer viver com sua família em um cenário de paz.


Ainda que se esperasse muito sobre o período no filme, recebemos algo além disso. Podemos perceber a história da vida daquela família se desenhando, os amores perdidos, as amizades interrompidas e o medo disfarçado de esperança. "Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-Rosa" se prova uma adaptação pessoal e extremamente bem feita. Há emoção, sonhos, vida e muita vontade, e tudo isso se encaixa em uma trama incapaz de deixar a desejar. 


Se existe uma lista de filmes para compreender certos períodos históricos por uma perspectiva cinematográfica, a trama de Caroline Link merece as honras. 


Nota ⭐⭐ 5/5




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