Crítica | Cherry



"Cherry" estreia na Apple TV e traz atuação impecável de Tom Holland em produção questionável

Poucos atores que começam sua trajetória com filmes mais voltados ao público infantil conseguem ganhar de presente um papel expressivo para consagrar sua carreira. Tom Holland de longe não é um ator ruim, mas sua juventude tão explorada pela Marvel Studios nos fez repensar se daria conta de viver um ex-militar drogado em Cherry, novo filme da Apple TV. E se você quiser ler nossa resenha do livro é só clicar AQUI.


Imagem: Reprodução/Apple TV

Cherry, dirigido pelos irmãos Russos (Saga do infinito na Marvel Studios), conta a história de um menino sem rumo e com poucas expectativas em relação à vida. A típica história do primeiro amor a quebrar o coração de um pobre menino acaba ganhando um novo desfecho nesse roteiro caótico. Emily (Ciara Bravo) dá vida a uma jovem enigmática e cheia de traumas não contados, o encontro explosivo se dá quando conhece o personagem de Holland e embarca na difícil missão de não se apaixonar - tentativa fracassada para Emily, mas mais fracassada ainda para o jovem que após tomar um pé, resolve se alistar no exército americano.


Após Emily contar para Holland que iria para o Canadá estudar, o jovem já perdido cai na tentação de tentar conseguir algo no exército - feito de poucos americanos. O interessante é ver o ator de Homem-Aranha se caracterizando para viver essa nova jornada e conseguindo passar exatamente a sensação de se estar cometendo uma burrice grande. O que não para por aí, podemos vê-lo se tornando médico do batalhão e vivendo a experiência mais traumática de um guerrilheiro: lidar com a morte diretamente.


Imagem: Reprodução/Apple TV

A história poderia ser facilmente sobre os traumas que o alistamento pode deixar em um homem, mas os irmãos Russos tentam apostar em algo mais. Após ir ao Iraque e servir ao seu país, Holland vê o pior dos mundos e segue a trama clássica e dolorida de perder companheiros durante confrontos militares. O que inicialmente parece ser ponto principal da história fracassada de um jovem de pouco mais de 20 anos, ganha outro protagonista: as drogas. 


Ainda que haja a necessidade de se falar sobre as dores que o vício traz, há a importância de se escolher um lado da história. A pergunta que fica no espectador gira em torno da moral que o filme quer passar, a própria fala de Holland ao decretar em um assalto que já defendeu o país mostra uma dicotomia desnecessária em uma trama que poderia ter escolhido o básico como referência. Por dirigirem o filme com a segunda maior bilheteria da história, Vingadores: Ultimato, talvez os Russos tenham esquecido do poder do “menos é mais”. 


Imagem: Reprodução/Apple TV

O filme é carregado de efeitos cinematográficos, muitos deles sem efeito nenhum para a trama de forma geral. Ciara Bravo e Tom Holland, entretanto, carregaram a produção com maestria quando o assunto é atuação. Ambos conseguiram mostrar os maiores demônios de estar na pele de um ex-militar e viciado, e de uma esposa de ex-militar e viciada. Sentir na pele o que o casal desesperado está vivendo mostra não só o paradoxo da vida real com o submundo que as drogas proporcionam, como nos faz sentir pena e torcer para que consigam sair daquela vida. 


A obra homônima de Nico Walker, ainda que adaptada de forma diferente do que vemos no cinema, conseguiu ser mostrada e, se pensarmos na conjuntura da obra, podemos sentir que foram boas escolhas, ainda que muitas não compatíveis quando a junção foi feita. O filme poderia facilmente escolher uma das abordagens e entregar um espetáculo, mas assim não seria uma adaptação. O contexto de drogas e militarismo está presente na vida de inúmeros americanos, por isso, poder ver a passagem de tempo e a conquista de uma vida diferente ao final do último arco, nos faz crer que havia necessidade de se contar essa história, ainda que seja somente mais uma em meio a tantos filmes com esse foco. Cherry não entrega nada além do esperado e entra na lista de estreias satisfatórias quando poderia ser uma das maiores do ano. O filme pode ser, no entanto, um ótimo incentivo para assinar o streaming e se deliciar com as produções disponíveis. 


Imagem: Reprodução/Apple TV

O filme está disponível na Apple TV e está cotado para ser uma das maiores apostas do Streaming no ano de 2021. 


Nota ⭐⭐ 3/5










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