Crítica | Dente por dente


"Dente por dente" chega aos cinemas com grande elenco e acaba prometendo mais do que de fato entrega.

O processo de gentrificação nas cidades é marcado pela retirada de pessoas de espaços e ocupação de corporações ou empresas. Possivelmente, se Dente por dente (2021) colocasse somente isso como foco e contasse sua história a partir daí, muitos buracos na trama teriam sido evitados. 

Juliano Cazarré interpreta Ademar, sócio de uma empresa de segurança e protagonista da nossa história. Ademar começa sua trajetória com um sonho em que perde um de seus dentes ao falar com Teixera (Paulo Tiefenthaler), sócio da empresa de segurança e parceiro do protagonista, no telefone de um hotel. Entretanto, o enredo começa mesmo quando ele encontra seu amigo morto sem nenhum dente na boca e acompanhado de uma mala de dinheiro. O culpado não é reconhecido, mas tem nome: Encruzilhada. 


O filme conta com grandes nomes como Paolla Oliveira (Joana) e Renata Sorrah (Meirelles), mesmo que ambas não tenham somado seis cenas no filme, a participação de fato pode ser considerada importante para o roteiro de forma geral. 



Dente por dente sofre com o que a maioria dos filmes de suspense brasileiros acabam sofrendo: falta de continuidade na história. Fica difícil saber quando estamos lidando com o ponto um ou o ponto dois do enredo, não sabemos o que se passa nos sonhos de Ademar ou na realidade em que ele está enfrentando. 


Ainda que o filme tenha inovado na forma de contar uma história de suspense, faltou liga e continuação. Quando assistimos um bom suspense, tudo que não desejamos é que as cenas voltem, mas nesse filme imploramos para apertar o botão de “voltar” e, quem sabe, entender o que está se passando ali. 



Juliano Cazarré não foi o maior problema do filme, pelo contrário, talvez tenhamos visto o típico caso de grandes atores com roteiros ruins. Vimos uma tentativa clara de progresso no filme, mas sentimos falta disso na construção do personagem, podemos lembrar, por exemplo, de Verônica em Bom dia, Verônica (2020). Claramente há uma degradação nas roupas e no emocional da personagem, coisa que aqui é imperceptível. Ademar começa com uma roupa e com uma preparação de personagem, e termina exatamente da mesma forma. 


Muito complexo também foi entender o motivo da retirada dos dentes das vítimas. O telespectador imagina um formato de Serial Killer, quem sabe até com uma pitada de Stephen King, e se decepciona friamente com o resultado. No final, se isso não existisse, ninguém sentiria nenhuma falta. 



O filme consegue levantar boas discussões, conseguimos entender, mesmo que no final, o propósito de ter parado 1h25 para entender a história. Com a abertura de um diálogo sobre a desocupação de pessoas em situação de vulnerabilidade, Dente por dente entregou algo ao seu telespectador. Cabe a ele decidir se, mesmo com os prós e contras, vale a pena parar para assistir. 


A construção de iniciar com uma frase e concluir com a mesma, foi outro aspecto positivo, fez com que o ouvinte pensasse: "opa, essa frase eu ouvi". No contexto em que estamos vivendo, possivelmente esse filme não fará tanto sentido, mas podemos apostar no gosto do brasileiro em sempre ver algo de sua cultura, pelo menos, para criticar. O elenco não compensa a escolha de ir ao cinema assistir, mas se você gosta de acompanhar projetos brasileiros ou simplesmente está com tempo, Dente por dente pode ser uma boa escolha para o final de semana. 


Nota ⭐⭐ 2/5





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