Livraria da Vila homenageia o centenário de Clarice Lispector com seleção especial de livros


Clarice Lispector, um dos grandes ícones da literatura brasileira, faria 100 anos no dia 10 de dezembro. Para celebrar a data, a Livraria da Vila prepara uma seleção especial que reúne grandes clássicos da autora editados pela Rocco, que estarão com descontos de 10%. A campanha é válida de 09 a 14 de dezembro, exclusivamente no site da livraria.


A ucraniana naturalizada brasileira Clarice Lispector, nascida Haya Pinkhasovna Lispector, gostava de dizer que só andou com os próprios pés no Brasil, para onde sua família se mudou quando tinha apenas dois anos ("Naquela terra eu literalmente nunca pisei: fui carregada de colo", dizia). A autora e jornalista é considerada uma das maiores escritoras brasileiras do século XX. 


Em sua obra, Lispector transitou por artigos publicados em jornais, crônicas de cenas cotidianas e tramas psicológicas que revelam momentos icônicos de pessoas facilmente identificáveis com o grande público. Autora de romances, contos e ensaios, foi uma das mais destacadas escritoras da terceira fase do modernismo brasileiro, chamada de "Geração de 45".


A riqueza de sua literatura, traduzida para mais de 10 países ao redor do mundo, lhe concedeu reconhecimentos importantíssimos, como o Prêmio Graça Aranha (1943), o Prêmio Carmem Dolores Barbosa (1961) e o Prêmio Jabuti (1961, 1978), e consolidou sua figura na cultura popular brasileira.


Confira abaixo alguns destaques da seleção:


Água Viva - Considerado o livro mais misterioso e autobiográfico de Clarice, "Água Viva" saiu do prelo em 1973. Mas somente na década de 1980, após a morte da autora, veio a público o fato de a obra ter sido intitulada, originalmente, "Objeto Gritante". 


A descoberta se deu graças à tarefa de pesquisadores mergulhados no Arquivo Clarice Lispector da Fundação Casa de Rui Barbosa, que guarda manuscritos, datiloscritos, documentos diversos e fotografias da escritora. Com este pequeno grande livro, Clarice Lispector conseguiu a façanha de descobrir um jeito transformador de escrever sobre si mesma. 


Um triunfo tão desconcertante que despertou assombro semelhante ao que a jovem autora provocara com sua estreia na ficção, o romance "Perto do Coração Selvagem", de 1943. Um livro refundador. Da literatura e da própria Clarice.


A Hora da Estrela - Último livro escrito por Clarice Lispector, A hora da estrela é também uma despedida. Lançada pouco antes de sua morte em 1977, a obra conta os momentos de criação do escritor Rodrigo S. M. (a própria Clarice) narrando a história de Macabéa, uma alagoana órfã, virgem e solitária, criada por uma tia tirana, que a leva para o Rio de Janeiro, onde trabalha como datilógrafa. 


Em A hora da estrela Clarice escreve sabendo que a morte está próxima e põe um pouco de si nas personagens Rodrigo e Macabéa. Ele, um escritor à espera da morte; ela, uma solitária que gosta de ouvir a Rádio Relógio e que passou a infância no Nordeste, como Clarice. Macabéa, a nordestina, cumpre seu destino sem reclamar. Feia, magra, sem entender muito bem o que se passa à sua volta, é maltratada pelo namorado Olímpico e pela colega Glória. 


Os dois são o seu oposto: o metalúrgico Olímpico sonha alto e quer ser deputado, e Glória, carioca da gema e gorda, tem família e hora certa para comer. Os dois acabam juntos, enquanto Macabéa, sozinha, continua a viver sem saber por que está vivendo, sem pensar no futuro nem sonhar com uma vida melhor. Até que um dia, seguindo uma recomendação de Glória, procura a cartomante Carlota. Esta edição traz o posfácio de Paulo Gurgel Valente.


Laços de família - "O texto de Clarice Lispector costuma apresentar ilusória facilidade. Seu vocabulário é simples, as imagens voltam-se para animais e plantas, quando não para objetos domésticos e situações da vida diária, com frequência numa voltagem de intenso lirismo. Mas que não se engane o leitor. Em poucas linhas, será posto em contato com um mundo em que o insólito acontece e invade o cotidiano mais costumeiro, minando e corroendo a repetição monótona do universo de homens e mulheres de classe média ou mesmo o de seres marginais. 


Desse modo, o leitor defronta-se com a experiência de Laura com as rosas e o impacto de Ana ao ver o cego no Jardim Botânico. Pequenos detalhes do cotidiano deflagram o entrechoque de mundos e fronteiras que se tornam fluidos e erradios, como o que é dado ao leitor a compreender acerca da relação de Ana, seu fogão e seus filhos, ou das peregrinações de uma galinha no domingo de uma família com fome, ou do assalto noturno de misteriosos mascarados num jardim de São Cristóvão. 


E, como se pouco a pouco se desnudasse uma estratégia, o cotidiano dos personagens de Laços de família, cuja primeira edição data de 1960, vai-se desnudando como um ambiente falsamente estável, em que vidas aparentemente sólidas se desestabilizam de súbito, justo quando o dia a dia parecia estar sendo marcado pela ameaça de nada acontecer. 


Nesta coletânea de contos, os personagens - sejam adultos ou adolescentes - debatem-se nas cadeias de violência latente que podem emanar do círculo doméstico. Homens ou mulheres, os laços que os unem são, em sua maioria, elos familiares ao mesmo tempo de afeto e de aprisionamento. — LUCIA HELENA, Pós-Doutorada em Literatura Comparada pela Brown University, EUA, e autora do livro Nem musa, nem medusa: Itinerários da escrita em Clarice Lispector"


Felicidade Clandestina Desde o início, Clarice Lispector recusou a escravidão dos gêneros. Escrevia por fragmentos que depois montava. Escrevia aos arrancos, transcrevendo um ditado interior. As estruturas clássicas não faziam parte desse ditado. Seu olhar passava por cima das regras, quase voraz em sua busca da essência. Este livro bem o demonstra. É composto por contos escritos em épocas diversas da vida de Clarice. E por não contos. Muitos deles - como Felicidade clandestina, que dá título ao livro - foram publicados no Caderno B do Jornal do Brasil. 


Como crônicas. Que também não eram crônicas. Convidada em 1967 para escrever no JB, Clarice deparou-se com um fazer literário novo. Logo negou os padrões vigentes. Vamos falar a verdade: isto aqui não é crônica coisa nenhuma. Isto é apenas. Não entra em gêneros. Gêneros não me interessam mais. E "isto" Era a mais pura e rica literatura. Nos contos / crônicas / textos - que eu, como subeditora do Caderno recebia semanalmente, Clarice se expunha em recordações familiares e de infância. Sua irmã Tania ainda se lembra da menina, filha de livreiro, que encontramos em "Felicidade clandestina", atormentando Clarice por conta do empréstimo de um livro. 


O professor de "Os desastres de Sofia" realmente percebeu o tesouro que Clarice menina escondia. E "Come, meu filho" é um claro diálogo entre a autora e seu filho. Nada diferencia esses contos, escritos para serem crônicas, de outros contos que aqui estão, escritos para serem contos e publicados anteriormente no livro "A legião estrangeira" . Seus textos podem ser desmontados, desfeitos em pedaços - até mesmo diferentes dos fragmentos originais - sem que se perca sua intensidade. Cada palavra ou frase dessa escritora sem igual origina-se em camadas tão fundas do ser, que traz consigo, mais do que um testemunho, a própria voltagem da vida. MARINA COLASANTI, Jornalista e escritora. Prêmio Jabuti para Eu sei, mas não devia e Rota de colisão.

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