Crítica | A Última Jornada - O fim do mundo era apenas o começo


Longa britânico deixa mais perguntas que respostas, tornando difícil sua compreensão e exigindo do espectador um esforço maior que o necessário

Para um bom fã de sci-fi, produções distópicas pós apocalípticas exigem sempre um bom ponto de partida levantando questões que podem ou não ser respondidas, mas ao menos compreendidas. A última jornada (The Last Boy), filme britânico de 2019 lançado neste mês de outubro no Brasil, parece não seguir essa lógica.

Dirigido e roteirizado por Perry Bhandal, o drama-suspense conta a história de um mundo devastado em que há poucos sobreviventes na Terra. Ao começar mostrando o menino Sira (Flynn Allen) cuidando de sua mãe no leito da morte em um trailer estacionado perto de um lago, ela o encarrega de encontrar um lugar misterioso capaz de realizar o desejo das pessoas. 


Sira (Flynn Allen) e sua mãe doente na cama (Aneta Piotrowska) - Créditos: Reprodução


Após a morte da mãe, munido com um mapa e um misterioso aparelho que ela o entregara, essa é a única forma dele se proteger do ataque de uma força invisível e mortal que os sobreviventes chamam de “O vento”. Ao partir para a jornada de realizar seu desejo, Sira encontra a pequena Lilly (Matilda Freeman), que se perdeu do seu grupo que fugia do vento. É ela que, antes solitária, pede para ir com ele ao lugar que concede desejos.


Após se conhecerem, Sira e Lilly (Matilda Freeman) partem para o lugar que realiza desejos e encontram um homem que não fugiu do "vento" - Créditos: Reprodução


Juntos eles partem em meio a um vasto campo. Um dos pontos positivos do longa é a possibilidade de mostrar um mundo pós-apocalíptico, mas ainda assim com paisagem exuberante. Depois de caminharem certo tempo num bosque, eles avistam no campo um grupo com mulheres carregando recipientes com água e um homem que aparentava estar com vestes religiosas. Era Priest (Peter Guinness), que nota a presença das crianças e as surpreende em seguida.

"O vento" é uma força rápida, repentina e poderosa que desvia de cursos d'água e é atraída por efeitos sonoros artificiais - Créditos: Reprodução

Ambos são levados para uma espécie de igreja, mas tem suas mochilas e objetos apreendidos por Jenna (Anna-Wilson Jones) que também os tranca em um quarto. Priest possui um aparelho igual ao de Sira, mas que não funciona. Pressionando o garoto a falar sobre o que ele sabe a respeito do aparelho, Priest, o vilão, coloca a vida de Lilly em risco, mas no final ele é que se dá mal com a própria armadilha. Sira revela para Jenna que o aparelho de Priest estava quebrado e que o que desvia o vento na presença dela e das discípulas é a água. É aí que ela aciona um aparelho de ondas sonoras que por algum motivo atrai o vento, matando Priest e libertando as mulheres de sua opressão que passa a comandar o lugar que as abriga.


Sira e Lilly sendo levados para uma espécie de mosteiro pelo vilão Priest (Peter Guinness) junto com suas discípulas - Créditos: Matt Wilkinson / Kirlian Pictures / PA Film Developments


Precisei contar em detalhes até aqui para levantar algumas das muitas dúvidas que surgem. É quase um terço do filme e é bem possível de você ficar perdido. Por que o aparelho de Sira desvia o vento mortal? Por qual motivo a água também desvia o vento? Por que a mãe de Sira enviou seu filho para essa jornada junto com esse aparelho misterioso? Por fim, o que é, afinal, essa força chamada “O vento”?


Aparelho misterioso que, assim como a água, também desvia o vento mortal - Créditos: Reprodução


Parte dessas dúvidas são somadas a outras que podem ser capazes de dar luz ao espectador para o que supostamente poderia ter acontecido. Ao continuarem a ida ao lugar que realiza desejos, Sira e Lilly juntam-se ao militar Jay (Luke Goss) e a cientista Jesse (Jennifer Scott), salva por Sira do vento. É a cientista, que trabalhava em uma universidade com pesquisas no CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), que revela que houve um desastre no centro de pesquisa que na vida real abriga o maior acelerador de partículas do mundo. Sua hipótese é de que esse desastre culminou na criação dos ventos que misteriosamente são atraídos por sons sonoros.


Desconfiada, a cientista Jesse (Jennifer Scott) vai em busca de respostas para a origem do vento e cria algumas hipóteses - Créditos: Matt Wilkinson / Kirlian Pictures / PA Film Developments


Esses pequenos detalhes são essenciais para um entendimento mínimo de tudo que está rolando, mesmo que evidencie ainda mais dúvidas. Ao final, uma das poucas coisas que parecem fazer sentido vem à tona: a concretização da frase do poeta e mestre espiritual persa Rumi (1207-1273) que dá início ao longa. “Para além das ideias de fazer o certo ou errado, existe um campo. Eu vou te encontrar lá”. Em um grande campo a caminho do lugar que realiza desejos, os ventos correm em uma única direção e não mais se desviam para matar humanos.


Sira, Jesse e Jay (Luke Goss) chegam em um grande campo - Créditos: Reprodução


No campo, reencontros acontecem e com eles tomadas de decisão. Talvez por já saberem das muitas dúvidas dos espectadores e a falta de respostas que o filme traz, os minutos finais, os mais emocionantes, abrem um gancho para uma continuação com gostinho de quero mais muito necessário. Afinal, as dúvidas precisam ser esclarecidas de alguma forma. Será que Sira chegará ao lugar dos desejos e pedirá para salvar o mundo? Vamos saber somente na possível continuação.


Ventos contínuos se dissipam com Sira do outro lado do campo - Créditos: Reprodução


O drama A última Jornada é um filme que deveria ter aviso prévio de uma continuação. Se você curte o tema ficção científica e distopia e quer quebrar a cabeça a espera de uma “parte 2”, o filme está disponível nas seguintes plataformas digitais: NOW, Looke, Microsoft, Vivo Play, Google Play e Apple TV. A distribuição é da A2 Filmes e você confere o trailer oficial abaixo.


Nota ⭐⭐⭐ 3/5




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